sábado, 20 de fevereiro de 2016

"...melhor queimar que apagar"




Esse é o primeiro post logo após o carnaval. Morar em uma cidade festiva tem o seu lado bom e o seu lado ruim: se está querendo festa, é o melhor lugar do mundo! Caso contrário, você vai sofrer muito. É "um tal" de bêbados nas ruas, sons em alto volume, blocos carnavalescos bloqueando as caminhos e blitz, por causa de bebida (mesmo você não bebendo), que te faz parar e repensar até que ponto vale a pena "viver" o carnaval.

Para não dizer que não "brinquei",  fui ao show do Jonhnny Hooker - cantor e compositor da famosa praia de Candeias - onde fui apresentado ao estado de Pernambuco, nos anos 70. Show massa e presença de palco fora do comum. Vale conferir.

...E por falar em rock, apesar de Jonhnny não ser roqueiro, hoje seria o dia de comemorar o aniversário do saudoso Kurt Cobain, do nirvana. E lembrando dele, não pude parar de pensar na forma pela qual ele tirou a própria vida. O suicídio é visto por muitos como uma forma covarde de tirar a própria vida e de fugir de problemas que, para muitos, serão passageiros e pequenos. Mais como acompanhar letras, músicas e depois ler a carta que foi deixada pelo Kurt e recriminá-lo? Segue a tradução da carta:





"Para Boddah*

    Falo como um simplório homem com experiência que obviamente preferia ser uma criança castrada e reclamona. Este bilhete deve ser bastante fácil de entender. Todas as advertências das aulas de Introdução ao Punk Rock ao longo dos anos, desde minha apresentação à, digamos, ética envolvida na independência e o acolhimento de sua comunidade, se provaram verdadeiras. Eu não tenho sentido a excitação de ouvir, bem como criar música, juntamente com a leitura e a escrita, faz muitos anos. Eu me sinto culpado por essas coisas além do que posso expressar em palavras.
 
   Por exemplo, quando estamos atrás do palco e as luzes se apagam, e o ruído ensandecido da multidão começa, isso não me afeta do jeito que afetava Freddie Mercury, que parecia amar, se deliciar com o amor e adoração da multidão, que é algo que eu admiro e invejo totalmente. A verdade é que não consigo enganar vocês, nenhum de vocês. Simplesmente não é justo nem com vocês nem comigo. O pior crime que posso imaginar seria enganar as pessoas sendo falso e fingindo como se eu estivesse me divertindo 100%. Às vezes eu sinto como se eu tivesse que bater o cartão de ponto antes de subir ao palco. Eu tentei tudo ao meu alcance para gostar disso (e eu tento, por Deus, acreditem em mim, eu tento, mas não é o suficiente). Eu gosto do fato que eu e nós atingimos e dirvertimos um monte de gente. Devo ser um daqueles narcisistas que só dão valor as coisas quando elas se vão. Sou muito sensível. Preciso ficar um pouco dormente para ter de volta o entusiasmo que eu tinha quando criança.
 
   Nas nossas últimas três turnês, uu tive um apreço muito maior por todas as pessoas que conheci pessoalmente e pelos fãs de nossa música, mas eu ainda não consigo superar a frustração, a culpa e a empatia que eu tenho por todos. Existem coisas boas dentro de todos nós. Eu acho que simplesmente amo demais as pessoas e isso me deixa muito triste. O pequeno, sensível, insatisfeito, pisciano, Jesus triste. "E por que você simplesmente não aproveita?" Eu não sei.
Eu tenho uma deusa como esposa que transpira ambição e empatia e uma filha que me lembra demais como eu costumava ser, cheia de amor e alegria, beijando cada pessoas que ela encontra porque todos são bons e ninguém a fará mal nenhum. E isso me apavora ao ponto de eu mal conseguir funcionar. Eu não posso suportar a idéia de Frances se tornar um triste, autodestrutivo, e mortal roqueiro, como eu virei.
 
    Eu tive muito, muito mesmo, e eu sou grato por isso, mas desde os sete anos, passei a ter ódio de todos os humanos em geral. Apenas porque parece tão fácil para as pessoas que tem empatia se darem bem. Apenas porque eu amo e lamento demais pelas pessoas, eu acho.

    Obrigado do fundo do meu ardente e nauseado estômado por suas cartas e preocupação nestes últimos anos. Eu sou um bebê errático e triste! Eu não tenho mais a paixão, e por isso lembre-se, é melhor queimar de vez do que se apagar aos poucos.**
Paz, amor, empatia.

Kurt Cobain
Frances e Courtney, eu estarei em seus altares.
Por favor, siga em frente, Courtney, pela Frances.
Pela vida dela, que será muito mais feliz sem mim.
EU AMO VOCÊS, EU AMO VOCÊS!"
 
*Boddah era o nome de um amigo imaginário que Kurt teve durante sua infância.
**Referência a verso "It's better to burn out than to fade away" da música Hey Hey, My My (Into The Black) de Neil Young.
 
 
Ao contrário do que falam, acho que o cara que tira a sua própria vida é um ser que tem coragem. Infelizmente, por alguns motivos, essa pessoa deve (tudo que podemos é falar em um estado de condição) ter passado a vida somando tristezas, desilusões e na sua plenitude de ser sensível (mais do que o normal das pessoas) se viu em um estado de exclusão. Excluir talvez seja a pior das atitudes que uma pessoa ou um grupo de pessoas pode ter com o próximo.
 
Não é a toa que um famoso programa de Tv sempre elege, como vitorioso, o personagem que sempre é excluído no programa. A sociedade age excluindo diariamente mas não consegue viver (na imaginação) que um personagem seja excluído.
 
Exclusão que pode acontecer por algo, por alguém ou pela própria pessoa, por uma cobrança além do normal consigo mesma. Nunca vou recriminar esse tipo de atitude. Também não vou elogiar. Creio que (e acho que muitos irão discordar) que a pessoa tem o livre arbítrio de fazer o que quer com o seu destino.
 
Atire a primeira pedra quem não está se matando em beber em excesso, comer coisas prejudiciais ao seu próprio organismo ou quem vive como um limão: azedo por dentro e por fora e violentando com atos de gestos aos que encontram nas ruas.




 
Uma coisa é certa. A carta de Kurt é escrita com uma sintonia da sua alma ao "mundo externo" e ao mesmo tempo que é uma desarmonia exagerada na grafia e falta de sintonia entre as letras e frases. Olhe que nem precisa ler a carta ou entender o idioma inglês para notar o quanto a vida dele estava, gravemente, em uma linha tênue entre a vida e a morte. Ou talvez ele já "estivesse morto", por dentro, antes mesmo de escrever a carta.
 
De qualquer forma, hoje é dia de escutar rock nas alturas e mandar energia positiva para essa verdadeira lenda viva (que irônico, não?) do rock mundial. 
 
 
"...melhor queimar que apagar"
 
Viva Kurt! Viva o Rock!

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