quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O olhar x a expectativa

 
 
Viver em uma cidade como Recife é um presente para qualquer um. Inclusive se o cara gosta de farra e tem disposição para tudo. Dinheiro? Não precisa de tanto. A capital pernambucana e sua vizinha de festas (Olinda) são singulares e paralelas neste quesito. Se come e se bebe de tudo: caro ou barato, longe ou perto e coisas boas e ruins. E nessa velocidade da diversidade cultural e de programação, o camarada pode ter de tudo: inclusive nada.

Existem aqueles de "gosto duvidoso" e que insistem em querer mais adeptos. Talvez seja a síndrome das redes sociais... Será?

Querer estar em todos os lugares seria impossível. Me impressiona a disposição de muitos para ir e "estar" em vários locais. É como se tudo fosse acontecer ao mesmo tempo (minuto após minuto). A necessidade quase desumana de abraçar tudo e todos. São os resumos (não tão resumidos assim) nos registros para o Instagram ou para o "loteamento" da festa em um breve post do Facebook.

Talvez seja uma necessidade de provar algo para alguém e que, na verdade, não se sabe nem quem é o público, que se quer alcançar, e os reais motivos. "Tão real" quanto uma risada para uma self em um local público.



 "Quem corre do sofrimento, sofre mais"
 
 
Será que correr das festas de carnaval será um sofrimento? Ficar em casa vendo a Tv com os "Vips" posando de admiradores do samba ou da axé music é, ou será, um processo difícil. E por morar em uma cidade referência de cultura e carnaval terá, se for o caso, o seu preço. Se ficar, o bicho pega. Se correr...
 
 
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Houve uma época em que andava de bicicleta por toda a zona sul do Recife e, principalmente, nas praias do que denominam, nos dias de hoje, a Jaboatão dos Guararapes. Em várias "bicicletadas" indo para a casa de uma namorada da época, eu sempre passava em frente de uma lanchonete em que era ponto da galera do surf.
 
Só para mapear, "o verbo" surfar não entrou na minha vida desde aquele tempo... Em uma das idas e vindas desse caminho, entrei no ponto da galera para saber o que tanto rolava: fiquei curioso para observar. E só observar.
 
Nela, vários cabeludos como eu (nos anos 80 só tinha cabelo grande o "boleiro", o surfista ou Paulo Ricardo, na sua RPM), e uma tv ligada com filmagens do que seria o dia da turma no mar.
 
Entre ondas, drops, comidas naturais e etc. eu estava atuando naquele circuito como um "haole" (uma espécie de gente fora do local). Ficava ouvindo e vendo as reações, brincadeiras e os supostos objetivos da turma: cada um com os seus sonhos de uma suposta, ou não, vida de surfista.
 
 
Engraçado que este mesmo filme passou na minha cabeça uns trinta e poucos anos depois. Estava vendo um programa sobre o Carlos Burle (lenda do surf brasileiro), e me deparei com uma frase do cara. E essa frase me fez ir até a minha adolescência, e naquela lanchonete, naquela noite. Mais engraçado é que somente me chamou a atenção em um segundo momento: "Hoje teremos onda pequenas. Vamos fazer acontecer".
 
Besta sou eu que acreditei no que o cara falou. Eram ondas no Rio de Janeiro que eu jamais pensei em surfar. Ondas grandes e sem uma sequência lógica. Um tremendo desafio para um iniciante do esporte.
 
Um mesmo olhar sobre a ótica da diferença em um segundo plano. Complicado, não?
 
As perguntas sempre me estimularam mais do que as respostas, mesmo que elas não tenham sentido ou uma exata explicação. A onda do Carlos Burle é muito maior do que o desejado por um surfista "normal" como eu. E daí, vários sentimentos: qual o olhar que cada um coloca no mesmo ponto? Qual a expectativa pelo que está do outro lado da ponte?
 
É lógico que a frase e o exemplo serviram de inspiração para as várias perguntas que sempre faço no meu dia a dia. Diria até que nas minhas longas horas de insônia ou nas minhas "curtas" (não tão curtas assim) corridas.
 
Gerar uma expectativa no que os outros falam pode não ser tão prazeroso. Alinhar as palavras e o contraditório do que se realmente enxerga é sempre desafiador para quem está olhando com a visão de admiração, de pódio ou simplesmente de aprendizado.
 
Que tal praticar o olhar com os próprios olhos e deixar a expectativa do lado? Talvez o caminho difícil seja o mais fácil de ser jogado e vivido. Vai saber?!
 
Carlos Burle, recentemente, me desejou boas vibrações e disse que nos encontraríamos nas águas. Imagine?!

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